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Vida Zen!!!

Um mês depois de ter terminado o meu Caminho a Santiago de Compostela, relembro que escondido num canto qualquer do meu subconsciente, existia uma idílica visão; nela via-me a fazer uma longa viagem.
Nessa viagem admirava o gado a pastar numa colina e atravessava campos cultivados de milho e trigo; percorria as montanhas e vales, e passava pelas grandes cidades e pequenas aldeias.

Na minha mente, antes de mais nada, estava marcado aquilo que eu chamava de destino!
Num determinado dia, numa determinada hora, eu tinha a certeza que iria completar esta viagem.
Maravilhosos sonhos então se tornariam finalmente em realidade, e várias peças da minha vida encaixaram-se-iam como as de um puzzle. Enquanto isso, andei de de um lado para o outro por esses caminhos, sofrendo e gozando as distâncias que tanto e pouco custaram a percorrer.

Muitas vezes dizia para mim:
"Quando eu chegar aquele sítio é que vai ser."
"Quando eu terminar a viagem."
"Quando eu alcan;ar o objectivo."
"Quando eu superar os meus limites."
"Quando eu alcan;ar a meta final, viverei feliz para sempre…"

Cheguei finalmente à conclusão de que o fim da viagem não existe; pois não existe um lugar em que se chega definitivamente! A verdadeira alegria consiste na própria viagem e a chegada é um sonho que constantemente se afasta de mim.

Aproveitar o momento que passa é um bom lema, especialmente quando junto tudo de bom que já viví.

Portanto, decidi que é bem melhor parar de andar apenas de um lado pra o outro pelos corredores da vida. Em vez disso, começei a andar mais de bicicleta, pasei a voar mais alto nas montanhas, passei a comer mais gelados, agora ando mais vezes pelos bosques, passei a nadar em mais rios, admiro mais a natureaza e acima de tudo rio mais frequentemente. Vivo a vida à medida que ela passa, pois quero convencer-me que a minha busca pela viagem jamais terá um fim…

Hola amigos.

Gostava de compartilhar com quem quiser a seguinte mensagem que recebi:
 
De: Acacio da Paz <acaciopaz@yahoo.com.br>
 
Queridos amigos peregrinos.
 
Uma Peregrinaçáo pelos caminhos !!! …
 
Sempre se vai a !!! … mais nunca se chega a !!! …
Para nós, a peregrinação a Santiago é uma forma de nomadismo, de expressar que a sociedade, a vida como um todo é transitória, de buscar valores do Passado onde fincar raízes e que revelem um novo sentido para o viver humano. É interessante que dos ditames mecanicistas da sociedade ocidental se possa engendrar o seu oposto: o nômade busca suas raízes, descartando uma forma de vida despersonalizada e de aparências, desapegando-se do status rotineiro por perceber que tudo é transitório e impermanente. É nesse instante que reside a possibilidade do encontro consigo mesmo e com o outro, irmanados na mesma esperança e na certeza de que há um fio condutor no processo de perceber, se tornar e expandir a Luz.
Ao perceber o essencial e viver de acordo com a simplicidade, o peregrino abre mão do consumismo compulsivo, limitando sim as possibilidades de consumir. Mas, ao contrário do rito urbano, a vida no Caminho, mais distante do comodismo e dos habituais condicionamentos rotineiros, propicia a abertura para viver o desconhecido e maravilhar-se a cada surpresa. O contato com as gentes dos “pueblos” ensina que a tecnologia pode conviver com a natureza e que a felicidade reside na beleza das coisas simples da vida. Assumir esse tipo de vida, por mais difícil que seja num entorno urbano, pode ser uma opção consciente que o peregrino fará quando retornar para seu lugar de origem, contrariando a forma de viver automática da civilização global. O desapego do supérfluo e da super- estimulação não significa desvalorizar a vida. Ao contrário, os “valores do Passado” não passaram, mas a sociedade capitalista pouco a pouco vai colocando neles a etiqueta “antiquados”. Na verdade, esses valores são perenes porque fundamentam a condição para a sobrevivência da humanidade no Passado e no Presente.
A peregrinação em si pode ter uma função catártica, como um rito ecológico, mas muitos peregrinos têm como característica comum exatamente a de ser peregrino, ou seja, não estão afiliados formalmente, a nenhum grupo particular – e se estão, ali não são representantes do grupo. O alívio da tensão da vida moderna pode ser conquistada, caminhando-se longas distâncias, mas a riqueza das aprendizagens no Caminho surpreende ao peregrino que se lança no desconhecido sem saber, muitas vezes, qual é o motivo ou o impulso que lhe leva adiante, muito menos o que irá passar ou o que encontrará ao ultrapassar a linha do horizonte dando a Santiago como no Caminho do Sol ; da Fé ; das Missóes , em qualquer caminho.
 
A CHEGADA:
De fato, a chegada à Catedral de Santiago é um misto de alegria, tristeza e angústia. Alegria basicamente pela meta alcançada – sobreviver ao esforço e chegar. Tristeza ao se despedir dos companheiros de caminhada e da vida itinerante. Angústia diante da dúvida: terei que me adaptar ao sistema da mesma forma que antes?
Serei capaz de reelaborar as novas experiências e dar-lhes uma significação na vida diária?
Serei capaz de enterrar o passado e renascer verdadeiramente para uma vida nova? 
 
A celebração, além da rodada de vinho com os companheiros e outros atos profanos, também envolve rituais sagrados. Através da passagem pela Porta Santa (perdão dos pecados), da missa do peregrino (ressurreição), dos croques na cabeça do Maestro Mateu no Pórtico da Glória (sabedoria), da visita ao sepulcro (mistério da morte), do abraço ao Apóstolo (identificação com o divino, através do coração compassivo), e do “Bota fumeiro” (Ação de Graças e Louvor), a angústia pode ser descarregada e a peregrinação, efetivada. Para alguns, a caminhada até o Fim do Mundo, à Costa da Morte, onde se queimam as roupas da peregrinação e se vestem roupas brancas, pode significar (o fim de uma vida e a entrada na vida nova).
A CHEGADA em outros caminhos pode-se dizer a mesma coisa do que em Santiago. As experiências sáo as mesmas de maneira diferentes. As conquistas e etapas percorridas marcam a renovaçáo e o reconhecimento de quem realmente somos e o que estamos fazendo aquí. Chegar náo é mais importante depois de peregrinar. O que vale é peregrinar, caminhar, andar, estar consigo mesmo reconhecendo-se a cada dia ,cada vez melhor para que o amanhá possa ser melhor que o hoje em busca de uma Paz e uniáo de todos.
Acacio da Paz ( peregrino del camino )
 
Refúgio Acacio & Orietta – Vilória de Rioja
Um lugar de responsabilidade social..e voce… ?
www.caminhodosol.org
www.caminhodesantiago.com
www.caminhodesantiago.org.br
www.setas-amarelas.com

Eu nunca tinha imaginado que ao afastar-me de tal forma da vida rotineira me pudesse fazer entender o mundo de uma forma diferente!  É engraçado que depois de uma viagem despojada como esta começamos a ver, angustiados, a quantidadede pessoas que nunca param para recarregar as baterias, levando vidas atribuladas e vazias de conteúdo.

Como tudo começou para mim? É difícil precisar, mas posso dizer que de repente ficou absolutamente claro, e não me perguntem como, que eu deveria, preparar-me para percorrer uma rota medieval que cruza todo o norte da Espanha desde a sua fronteira com a França até chegar à cidade de Santiago de Compostela.

A partir de determinada altura esta ideia tomou conta dos meus dias e também das minhas noites, levando-me a ler tudo o que encontrei escrito sobre o Caminho de Santiago, e a contar as horas até ao instante em que eu daria meu primeiro e inseguro passo em direção d Santiago.

Uma vez no Caminho, aprendi como é difícil gerir o corpo e a cabeça quando se percorre mais de 850 quilómetros. Dormi em Albergues pouco confortáveis, comi o que encontrava à venda e entreguei-me de corpo e alma aquela vida totalmente despojada. Foi enriquecedor conviver com gente do mundo inteiro e de todas as idades, desde uma criança de 3 anos até um velhote de 87. Tive o privilégio de fazer vários caminhos dentro do mesmo Caminho! Fiz um caminho de desafio e aventura, do conhecimentos histórico e fiz, sobretudo, o caminho para uma vida renovada.

Desde que regressei que os meus afazeres diários mudaram radicalmente. Hoje só sinto vontade de colocar a minha energia naquilo que de facto me interessa. Como li algures uma frase de alguem que percorreu um Caminho semelhante e indentifico-me com as seguintes palavras: "Descobri que havia passado a maior parte da vida buscando o ter. Pior, muitas vezes nem percebia que estava fazendo um esforço tremendo para parecer ter, não era nem para ter. No Caminho de Santiago, descobri o que realmente significa ser, simplesmente ser".

Seja lá o que eu possa ter ido buscar (e duvido alguma vez vir a perceber a razão), a verdade é que realmente encontrei, pois até agora, e creio que por toda a minha vida, o Caminho continuará a mostrar-me as  escolhas acertadas e a guiar-me na direção de me tornar alguém mais tolerante e feliz. Vou compreendendo, um pouco a cada dia, a natureza generosa de tudo aquilo que pude receber do Caminho de Santiago.

 

Paulo Reis

Devido à impossibilidade e ao limite reduzido de espaço existente neste Blog para colocar as fotografias que tirei ao longo do Caminho. Criei um outro local onde colocarei as minhas fotos legendadas e convido todos aqueles que quiserem, a visitarem o seguinte os endereços dos diferentes albuns referentes a cada etapa realizada:

 

Album referente ao Dia 0

http://picasaweb.google.com/Paulor100/CaminhoDeSantiago2006Dia0

 

Album referente ao Dia 1

http://picasaweb.google.com/Paulor100/CaminhoDeSantiago2006Dia1

 

Album referente ao Dia 2

http://picasaweb.google.com/Paulor100/CaminhoDeSantiago2006Dia2

 

Album referente ao Dia 3

http://picasaweb.google.com/Paulor100/CaminhoDeSantiago2006Dia3

 

Album referente ao Dia 4

http://picasaweb.google.com/Paulor100/CaminhoDeSantiago2006Dia4

 

Album referente ao Dia 5

http://picasaweb.google.com/Paulor100/CaminhoDeSantiago2006Dia5

 

Album referente ao Dia 6

http://picasaweb.google.com/Paulor100/CaminhoDeSantiago2006Dia6

 

Album referente ao Dia 7

http://picasaweb.google.com/Paulor100/CaminhoDeSantiago2006Dia7

 

Album referente ao Dia 8

http://picasaweb.google.com/Paulor100/CaminhoDeSantiago2006Dia8

 

Album referente ao Dia 9

http://picasaweb.google.com/Paulor100/CaminhoDeSantiago2006Dia9

 

Sao cerca de 600 fotos comentadas com muito prazer! Infelizmente o site é Inglês, logo nao coloquei acentos nem cedilhas pois apareceriam distorcidas… Espero que gostem tanto como eu gostei de o fazer…

 

Beijos e abraços,

 

Paulo Reis

Recebi esta mensagem no meu e-mail alguns dias depois de regressar do Caminho de Santiago. Não conheço a pessoa mas ele quis compartilhar comigo e com muitos outros peregrinos as seguintes palavras:
———- Forwarded message ———-
From: Acacio da Paz <acaciopaz@yahoo.com.br>
Date: 04/05/2006 10:41
Subject: PEREGRINOS DEL CAMINO
To: contato@awake.com.br, cg_inno@hotmail.com, carmenjoya@hotmail.com , lena_olaso@yahoo.com.br, william_antonioli@albint.com, danielclcosta@ig.com.br , antonio_timoteo@yahoo.com.br, pcordeirosantos@uol.com.br, homerorui@uol.com.br, beldigiovanny@ig.com.br, yonga@terra.com.br, fbarqueta@hotmail.com, carloseduardo@lippelengenharia.com.br, paulotarso12@hotmail.com, lucianodinatale2000@yahoo.com.br, pacharelo@hotmail.com, wfirpo@gmail.com, vieira.giuliano@gmail.com, nilsonmenezes@terra.com.br , alesouza_bsb@hotmail.com, joao.tobias@deten.com.br, dr.adaof@uolcom.br, marviane@ig.com.br, mazocardoso@terra.com.br, jefferbedram@bol.com.br
Cc: asantos_afs@hotmail.com , tereof@bol.com.br, tiolico05@yahoo.com.br, luizroberto@corcovado.com.br, cb_domingues@hotmail.com, libakarnopp@yahoo.com.br, jotamelo@bol.com.br, irenefagundes@gmail.com , veiolobo@yahoo.com, bralha@globo.com, nau4@terra.com.br, marcelomigotto@yahoo.com.br, emirhickmann@gmail.com, renato_prado@hotmail.com, tvpassos@inter-via.com , vilma.reis@jfpe.gov.br, luzamorosa.bea@gmail.com, manoel.filgueira@uol.com.br , salomonstf@yahoo.com.br, ytakata@ig.com.br, eleazarl@brturbo.com.br, isabel.faria@ijm.pt, war_ley@hotmail.com, analucia.santanna@yahoo.com.br, jcbarbosamail@hotmail.com , vinavale@hotmail.com, mdonato.@tce.sp.gov.br, jarimbau@gmail.com, emidiocardoso@hotmail.com, jhonnyc@greco.com.br, gildosrios@bol.com.br, magda_vgb@yahoo.com.br , alexandrecalmon@yahoo.com, celsoluiz_costa@hotmail.com, thali1960@hotmail.com , jrdl@uol.com.br, evaldogabriel@yahoo.com.br, elian@hotmail.com, ninar2@ig.com.br, jobat27841@yahoo.com.br, paulor100@gmail.com

 

Queridos amigos peregrinos.
Acompanho a listas dos que estão embarcando, dos que sonham em vir, e dos que esperam o dia para embarcar. Muitos buscam vir em grupos, buscam companhia e a maioria informações.
 
O que dizer? Pensei bastante antes de escrever alguma coisa a vocês peregrinos amigos. Alguns já me conhecem e outros não. Invadir assim seus e-mail e dizer alguma palavra amiga para facilitar seus caminhos é uma intromissão de minha parte e por isso peço desculpa a todos antes mesmo de começarem a ler o que busco transmitir a todos vocês.
Aos amigos Portugueses que escrevem, venham tranquilos aqui é um outro lugar somente estando aqui poderam perceber de perto a magia secreta do caminho de Santiago.
 
Falar de que cada sonho pode ser uma realidade e que nada é uma utopia. Basta pensar em querer chegar até aqui que existe alguma força que os permite chegar. Saber de que o caminho de Santiago é algo tão misterioso que não existe uma explicação. O Caminho começa desde o primeiro instante que cada um decide caminhar. Não existe Kilometros e nem distancia para caminhar. O Início e o Fim são metáforas. São tantas coisas que nos levam a crer IMPOSSÍVEL. Mas afirmo de que nada é tão impossível assim. Aos que buscam grupos, relaxem e venha aqui ninguém caminha sozinho. Os que sonham, orem e peçam que à hora de cada um como um milagre chegará a seu momento. Os que esperam descansem e agradeçam desde já a chamada que cada um escutou.
Somos todos peregrinos e merecemos estar aqui. Mas, paciência para a hora de cada um. Pode ser que para um de vocês demore bastante e para outros sejam assim de repente. Assim é o caminho o antes o durante e o depois.
Obrigado a vocês por compartirem este tempo comigo.
 
O Caminho para 2006
Acacio da Paz
 
 
O que comparto é o que ainda estou concluindo sobre este misterioso caminho. Depois de algum tempo buscando respostas a algumas perguntas de peregrin@s que por aqui passam.  Mesas compartidas durante horas madrugadas; copas de vinho la Rioja; chorizos e rujos. Despedidas; saudades; sorrisos e lágrimas, histórias de quem faz o caminho existir: O PEREGRIN@. Escrevo testemunhos e coloco no ar ao universo estrelar; ao caminho virtual; ao mundo peregrino; a todos os peregrinos que já fizeram; aos que ainda vão chegar; e para aqueles que comparti este lindo caminho.
Gracias a todos vocês!
Espero vocês para continuar esta conversa no nosso Refúgio em Vilória de Rioja.
 
 
 "O conceito de peregrinação é utilizado em todas as culturas de forma alegórica para expressar a semelhança entre a viagem física do indivíduo para venerar um lugar sagrado e a viagem espiritual que este deve seguir em sua vida. A alegoria é uma forma de comunicação simbólica, na qual um feito real, um recurso visual ou escrito é somente aparente e contém outro significado de caráter distinto e oculto, às vezes compreensível somente por um grupo reduzido de pessoas."
O Caminho de Santiago é um simbolismo do caminho interno que os homens devem recorrer para despertar a consciência dormida através do caminho iniciático pela natureza, que conduz os seres humanos através da espiritualidade; formando uma vivência junto a ela, a conseguir nossa auto-realizaçáo.

O Caminho de Santiago une os dois extremos nas almas. Assim podemos considerar que o Caminho de Santiago é uma forma de íntima entrega.

A energia telúrica que existe no Caminho permite o encontro com a nossa alma proporcionando o encontro com o físico e o espírito, mediante o aprofundamento e proteção do exterior, com recolhimento interior de sua alma (mostrando a mente nossa missão com a nossa alma).

Quem não é correto de alma não encontrará o caminho. Caminhar pelos portais da iniciação; entrando em uma a uma das 7 ou 8 portas do caminho, abrindo-as, descobrindo-as no que ficou atrás e o que está a frente das sendas estrelares, permitirá você ter um melhor contato com sua própria essência , com seu próprio EU.

Frases de alguns testemunhos:

Muitas coisas podem mudar no seu caminho; o sonho Não, os amigos Nunca. Caminhe para reencontrar seus amigos, "unidos pelo caminho jamais separados".

– Caminhe com seu novo amigo VOCE MESMO.

– Todos somos caminhantes, sabedores que o caminho mais sublime é o que reside dentro de nós.

– O sentir se traduziu em expressão racional. Assim caminhamos sentindo novas sensações e emoções nos encontros. Ative os sentidos.

 
"…quantos caminhos um homem deve andar p/ que seja aceite como homem". Vivo me perdendo tentando acertar, acho que essa longa caminhada seria um grande encontro comigo mesma"
 
Sei que nos encontramos no passado distante e o nosso destino é o aprender e aprender, com o auxílio daqueles que está circunstancialmente ao nosso redor.
Seu coração é seu guia e a fé te conduzirá
 
Quando eu Acácio repito o caminho, me esqueço da minha experiência antiga, por quê? O caminho é o encontro diário do perdão dentro de meu coração. Em cada curva encontro um amig@, em cada árvore a lembrança de que este amig@ estará novamente aqui. Em cada fonte a sede é saceada e este amig@ continuará aqui me esperando mais uma vez em mais um Caminho. Reencontros e mais um Adeus. Mais um regalo de Deus. Aproveitem seus amigos del camino.

O Caminho é purificação; fica difícil passar por ele sem ser peregrino.

Não esqueçam de ser peregrino e de não ter vergonha de sê-lo.
Quando comparto as perguntas e respostas sobre o que levar, como se preparar etc., pergunto-me? É necessário preparar-se para tanto? Escute com atenção a todas as dicas de todos, mas sinta dentro de você o que seu coração quer dizer.

O peregrino passa por diversas transformações anímicas pelo fato de sua alma, afinada pela receptividade, oração e meditação ao caminhar, passando por lugares de energias… Esta energia existe em toda parte onde encontramos: calor- vida – luz e som.

Contudo observamos ¡¡¡???…

Quando vamos ao caminho somente para VISITAR amigos esta energia sentida é diferente de quando estamos nele durante o tempo da peregrinação. É uma sensação estranha estar no caminho por alguns dias e depois voltar para onde estamos. Fica algo perdido no ar, a sensação de ter entrado em um lugar que não tínhamos que sair mais. A preparação é importante quando temos que interagir dentro deste Caminho Sagrado. A essência dos mistérios torna-se exotérica, no bom sentido da palavra; tudo o que até então vivia no íntimo é agora edificado. Ter a consciência dele é onde esquecemos e não providenciamos esta preparação.

 
 
Os Albergues:
Muitos mais albergues nestes 2006 pelo caminho. Muitas flechas amarelas indicando o caminho a percorrer. Muitas normas, guias, peregrinos (?). O que deve ser feito e como deve ser. Sugerências para melhorar na visão de cada um. As portas estão abertas para todos; La puerta se abre a todos, enfermos y sanos. No sólo a católicos, sino también a paganos, judios, herejes, ociosos y vanos. Y, por dicirlo brevemente, a buenos y profanos.

Críticas construtivas, novas normas, por quês? Assim é o caminho e assim sempre será.

O espírito Jacobeo deve continuar e deve ser para aqueles que buscam as respostas deste solo sagrado, escutando o chamado e caminhando onde temos que ir; mais certamente nunca vai ter um lugar para chegar e nunca será possível ter a verdadeira VERDADE deste Caminho.

 
Na Galícia:
Onde existe a atuação da supernatureza. Neste caminho o peregrino se expõe a espiritualidade da natureza, perceptível tanto antes como hoje: você pode presenciar os gnomos nas montanhas, as salamandras no calor tórrido nas sendas del camino, e as ondinas na umidade da Galícia (no sentido simbólico).

Contemple o que você encontrar…reverencie o que a natureza te oferece. Pare e fique reproduzindo a sua própria vivência astral por estes caminhos a fim de alcançar a certa calma, vivenciando a transformação dos motivos por estar aqui.

Finisterre:

O fim do mundo físico. Depois de ter percorrido o caminho das forças planetárias, o peregrino é conduzido ao Grande Oceano, que ele vivencia anteriormente com o Mar entérico onde estão contidos o UNIVERSO, os Planetas e a Terra. É a 2º vivencia que passa o Peregrino ao chegar ao Oceano.

Chegar ao fim do mundo significa chegar ao fim do mundo conhecido.

Ter vivenciado o oceano de modo plenamente físico, depois de ter percorrido a espiritualidade da natureza, tendo por fim, na Galícia imergido na substância aquática das ondinas, vivenciando a transição do éter cósmico.

O que percebemos interiormente ao Peregrinar, em contemplação, de imagem em imagem e de imaginação em imaginação. Vivenciar agora com a essência do espírito do mar abrindo-se em sua frente: o mar etéreo é o essencial confluído.

– Peregrinos do Brasil e de Portugal nestes 2006; Venham com tranqüilidade, devagar, sem peso, sem pressa… Peregrinar não é o mesmo do que caminhar.

Um super beijo para todos e para os que estão chegando em 2006. E aos que em 2007 sonham em estar aqui. Até breve amigos.

ULTREYA Y SUSEIA.
Gostaria de poder estar com todos vocês em seus caminhos. Mas saibam de que aqui é a casa de cada um de vocês. Se estiverem perdidos aqui tem um ombro amigo brasileiro.

Nosso telefone para o que fizer falta a todos vocês está a disposição: 0034 – 679.941.123 – Acacio & Orietta

Os símbolos não morrem jamais. É, todavia a necessidade humana de ser os mesmos, se continuam buscando espadas e Graals por muitos séculos até chegar onde temos que chegar…?¿
 
 
Bibliografia básica:
Ajuda indispensável de várias páginas da Internet
Manfred Schmidt-Brabant – Caminhos estelares
Autor: LÓPEZ CABALLERO, A.
Título: "Función Social del Rito en la Tribu Urbana"

Simbologias que estão no Caminho:
Espada
– símbolo de força e liberdade e da coragem viril.
Representa o poder da Luz frente as neblas.
Poder ao mesmo tempo do SOL – do ponto de vista do princípio masculino ativo e com referência aos raios solares que brilham como espadas. Por vezes era símbolo fálico.
Como instrumento cortante simboliza a decisão, a separação entre o bem e o mal e também a justiça.
No sentido esotérico, asocia-se aos signos de Ar, que é a Inteligência racional.

O as de Espadas é o espírito ao alento primogênito, a alma e sua qualidade de percepção mental, a depuração do impulso e da sensualidade.

O graal é o as de copas a tétrade de elementos, aportando água, e os fluídos vetais: que é o sangue, o vinho que simboliza os sentimentos, a alma intuitiva, conhecimentos fecundos.
Era acessível somente ao homem puro e conseqüentemente também símbolo dos mais altos graus de desenvolvimento espiritual, depois da provação de aventuras espirituais.

Um cavaleiro do templo são Dois: o que está vivo e o outro ser humano supra-sensível que continua atuando nele – o guardião do Graal.

 
Aos peregrinos que partem de Portugal, também há grupos organizados a partir de Braga, procurem no www.google.com, Grupo Jacobeus.
Acacio da Paz.
22-01-2006
Refúgio de Peregrinos & Centros de Estudos
Acacio & Orietta

Calle Bajera,31
09259 – Vilória de Rioja 
Burgos – España
(0034) 679.941.123 – 646.655.094

  
Refúgio Acacio & Orietta – Vilória de Rioja
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www.caminhodesantiago.org.br

 

A rota das estrelas

De longe era apenas um vulto imperceptível, mas de perto distinguia-se a silhueta de três pequenas pedras deixadas de propósito sobre uma marca de quilometragem. Continham um papel velho e amarelado. Entre manchas de barro e humidade, uma débil caligrafia juvenil escrita com tinta azul dizia: “Enrico, buenos dias. Escutar, observar e abrir o coração aos sons. Assinado: Jean”.
Nunca saberemos se Enrico não viu a mensagem de seu amigo Jean ou se talvez, depois de lê-la, preferiu seguir o Caminho até Santiago e deixá-la ali, à intempérie, naquele marco perto de Frómista, com a confiança de que algum outro peregrino lesse e também essa sensível definição que seu amigo Jean havia feito sobre o Caminho de Santigo: Escutar. Observar. Abrir o coração para os sons.
Com essas palavras acabava de descrever a abismal diferença que separa a rota jacobeia a Compostela de qualquer outra marcha em qualquer caminho do globo. A hospitalidade, o desapego ao supérfluo, a comunhão do corpo com a natureza depois de vários dias de marcha, a tradição depositada por milhares e milhares de viajantes nos últimos 11 séculos em cada pedra, cada árvore, cada cruzamento da rota jacobeia fazem deste caminho a oeste, ao finis terrae, uma experiência única no mundo, que lembra a rota das estrelas, o reflexo sobre a Terra deste outro caminho celeste, a Via Láctea, que já foi utilizada pelos peregrinos na Idade Média para orientar seus passos até a tumba do apóstolo.
A peregrinação a Santiago é uma viagem de quase 800km ao interior de si mesmo, que cada pessoa realiza com a sua própria bagagem e objetivos. Há aqueles que a iniciam pelo prazer de caminhar; outros, por convicção religiosa, ou por interesse artístico e histórico a respeito de um trajeto pelo qual entraram na Península Ibérica as vanguardas estéticas e culturais do Ocidente; também é frequênte fazê-lo por uma promessa, ou por um pouquinho de todos esses motivos ao mesmo tempo. Mas o que quase ninguém que inicia o Caminho sabe é que esse momento desencadeia um processo de renovação interior que para esta pessoa haverá de mudar o conceito de muitas coisas.
Tem algum sentido uma peregrinação por uma rota medieval, na alvorada do século XXI? É evidente que o traçado histórico desapareceu em grande parte sob o asfalto das estradas ou pela expansão das lavouras. Onde antes havia bosques, lobos e bandidos, agora há zonas industriais e veículos a motor. E os peregrinos, que antes pediam esmolas, agora carregam no bolso um cartão de crédito. Mas a essência da via milenar permanece com a mesma intensidade, suspensa em cada bocado de névoa dos bosques navarros, em cada dobra das colinas riojanas, em cada horizonte interminável das planícies castellanoleonesas ou em cada sombra húmida das corredoiras galegas.
É certo que o Caminho está em mutação a passos agigantados. Uma nova era de ouro, depois de quase quatro séculos de decadência, é uma força que deve trazer renovação. Florecem novos negócios, como cogumelos no outono: placas de “Leva-se mochilas até o próximo albergue por 2€” ou outros que anunciam restaurantes, hotéis, padarias ou albergues privados, que ficam viradas para a trilha dos pedestres e não mais para a estrada, como acontecia antes, explicitando por onde é que agora chegam os clientes.
Talvez isso não seja um mal em si; talvez, como dizia um hospitaleiro brasileiro que passou cinco anos atendendo caminhantes, não seja mais do que a própria dinâmica do Caminho, que já foi e cresceu como via comercial na Idade Média, mas é certo que antes do ano Jacobeio de 1993 era difícil encontrar um telefone público, e agora há cybercafés nas aldeias mais remotas da Galícia.
Sem dúvida, quase 1200 anos depois que o primeiro peregrino chegou a Santiago, ainda sobram detalhes suficientes – os albergues que só pedem uma esmola, um hospitaleiro que desperta seus hóspedes com cantos gregorianos e os convida ao café-da-manhã, as bolhas nos pés, um momento compartilhados com gente desconhecida mas muito próxima – para fazer desta viagem interior uma experiência inigualável. Porque muito poucos são os que conseguem não se emocionar ao finalizar a pequena aventura de percorrer um pedaço da História sem nenhum motor que não suas próprias pernas e sem mais objetivos além daqueles que Jean enumerou a seu amigo Enrico: Escutar, observar e abrir o coração aos sons.
 
Nota: Este texto está nas páginas 8 e 9 do livro “El Camino de Santiago a Pie”, editado por El País/Aguilar.
Achei tão bonito que decidi colocar aqui. Estas palavras inspiraram-me e deram-me a certeza de que tomei uma óptima decisão ao escolher percorrer o Caminho de Santiago.
 
Encontei este poema escrito em Castelhano algures em parte incerta, numa parede de uma casa ao longo do Caminho de Santiago. Aqui vai a minha tradução para Português:
 
 
Pó, lama, sol e chuva
é o Caminho de Santiago.
Milhares de peregrinos
e mais de um milhar de anos.
 
Peregrino? Quem te chama?
Que força oculta te atrai?
Não será o Caminho das estrelas.
Nem as grandes Catedrais.
 
Não é a chuva de Navarra,
nem o vinho dos riojanos
nem os mariscos galegos,
nem os campos castelhanos.
 
Peregrino? Quem te chama?
Que força oculta te atrai?
Não serão as gentes do Caminho.
Nem os costumes rurais.
 
Não é a história e a cultura,
nem o galo de La Calzada,
nem o palácio de Gaudí,
nem o Castelo de Ponferrada.
 
A todos vejo passar,
e é um prazer a todos ver,
mas a voz que a mim me chama
sinto-a muito mais fundo.
 
A força que a mim me empurra,
a força que a mim me atrai,
nem eu mesmo a sei explicar
!Só o lá de cima sabe! 
Autor: E.G.B.

Notas Finais

O Que é o Caminho?
Uma aventura de andar por um mundo desconhecido, enigmático e fantasioso, que a principio dá ansiedade, arrependimentos e frustrações. É uma caminhada à profunda emoção do homem e aos seus sonhose desejos. Um convite a seguir por entre nossos maiores receios e vivê-los tão profundamente, que eles deixarão de ser um problema, uma limitação, para se tornar um estimulo para ir em frente, absorvendo toda a energia que ele nos reserva.
O caminho de Santiago de Compostela é simples, verdadeiro e coloca-nos em frente aos nossos maiores desafios e medos.
Também nos dá a tristeza de quem não podemos ajudar e deixamos para trás.
A percorrer lugares estranhos e ter a coragem de correr riscos, lutar com o desconhecido e continuar pedalando ou caminhando durante o dia com sol estafante, ao frio da lua e nas trevas da noite.
O caminho faz-nos controlar as nossas emoções, salvo os dias em que estamos muito fracos para entender a razão, ficamos tristes, mas continuamos a seguir um rumo, uma trilha… o "Caminho das Estrelas".
Como lí estas palavras algures e não-me esqueço nunca delas: "Life is either a daring adventure or it is nothing". Assim é também o Caminho de Santiago…
Parti com um objectivo pessoal mas acabei por cumprir vários outros objectivos… Neste caminho percebi que não há metáfora melhor para a vida, do que a ideia de se ser peregrino!!! Não há mesmo…
"Viajar é a experiência de deixar de ser quem você se esforça para ser, e se transformar naquilo que você é." PAULO COELHO.

Dia 9 – Portomarin a Santiago de Compostela
Distância -105Km
Tempo gasto 10h30m

Cheguei finalmente a Santiago demasiado cansado e decidi que não vou continuar até Finisterra! Pensei nisso, mas a dor num dos cacanhares nos ultimos 20 kms tirou-me essa ideia de vez. Cheguei a Santiago a coxear bastante e senti-me mal por voltar á "civilização". Penso que com descanso vou recuperar bem, pois para além do pé dorido e do traseiro muito amassado sinto-me bem! A etapa começou de noite ás 6.15h e foi de novo um sobe e desce constante durante 100 kms. A vontade quase que agonizante de chegar a Santiago fez-me esgotar todas forças que ainda me restavam.
Domingo em Santiago é sinónimo de invasão de excursões de portugas, algo nada bonito de se ver! Por outro lado não conseguia comunicar com esta gente depois de tudo o que passei nos últimos 9 dias! O barulho e a confusão das ruas fizeram-me ir visitar a Catedral á pressa cumprindo os rituais adequados, comer qualquer coisa, comprar o bilhete do autocarro para a viagem de regresso e vir-me deitar. Tenho de me habituar aos rituais da sociedade moderna, depois de ter andado numa viagem mágica! Estou bastante triste por tudo ter acabado desta maneira, mas o que vale é a viagem e não o final.

Informação adicional:

Saí de Portomarim de madruhsd. Esta cidade quase que é uma espécie de cartão postal. Logo na entrada existe uma escada que termina na Capilla de las Nieves. Esta cidade tem a particularidade de ter sido mudada de sítio em 1962 e um de seus maiores monumentos, a igreja de San Nicolas de Portomarín , saiu de seu lugar original e foi reconstruída num local mais alto. A praça onde ela se localiza é ampla e tem um monumento ao peregrino em pedra. Subi em seguida um bocado até chegar em Ventas de Narón. Depois, um sobe-e-desce terrível até Palas de Rei, que fica local baixo. Daí para a frente foi só contar os quilómetros até Arzúa, não sem antes passar numa cidadezinha muito simpática chamada Melide.
Em Arzúa faltavam somente cerca de 40 quilómetros para chegar a Santiago de Compostela. A sensação que tive por esta altura foi um misto de euforia, alegria e vontade de chegar. Qualquer que seja o motivo de se fazer uma viagem como essta, é inegavel a força que nos empurra pelo caminho adiante. Cheguei ao Monte do Gozo, que fica a quatro quilómetros de Santiago, com muito sol, o que permitiu uma boa visão da cidade. O monumento que existe no local é de gosto duvidoso para quem vivenciou nas últimas duas semanas toda uma estética romana, gótica e até renascentista. De qualquer maneira, o mundo segue em frente e esse monumento, daqui a alguns anos, também terá o seu valor histórico.
A chegada à catedral de Santiago foi emocionante, sentei-me no chão em frente á catedral com milhares de pessoas em volta e consegui abstrair-me da confusão e gozar de um momento pessoal. Tudo aquilo que se espera está lá. A imponência, a beleza, a onipresença de um símbolo religioso de grandeza suficiente para ser único e ao mesmo tempo absoluto naquilo que pretende.
A Catedral tem um quê de autêntica em relação ao tempo de sua existência. Ao contrário das belíssimas catedrais de Burgos e León, a catedral do apóstolo Santiago é acessível e os milhares de peregrinos que vão ao seu encontro podem tocar, ver e sentir que conseguiram terminar aquilo que começaram. Por dentro, a igreja é belíssima, e parece crescer a cada passo em direção ao altar, todo dourado, com um brilho intenso e com tantos detalhes que é inútil tentar enumerá-los. O botafumeiro pendurado por uma corda com um sistema de roldanas, é um espetáculo à parte, assim como a configuração dos tubos do órgão da igreja, que formam um desenho ilógico de cada ângulo que é observado. O botafumeiro é um equipamento que foi muito utilizado no passado distante para fazer a dispersão do incenso que era queimado na igreja para minimizar o mau odor proveniente dos peregrinos, que chegavam cansados e estropiados na igreja. A cripta do apóstolo fica abaixo do solo, é feita em prata e tem um ar solene e de respeito. Os peregrinos enchem as naves (a catedral tem três, a central enorme e outra duas laterais pequenas) e não se cansam de fotografar toda a maravilha que vêm. É a grande festa dos peregrinos.
O peregrino que chega até suas portas, com qualquer finalidade, sente-se diante de algo muito maior do que um simples edifício. As imagens de Santiago no topo da catedral dão as boas-vindas e a certeza de que a meta foi alcançada.Na casa do Deão foi colocado o último carimbo na credencial do peregrino, e recebi um tipo de diploma por ter completado a jornada, a chamada Compostela, onde o nome do peregrino é escrito em latim. É um troféu para a maioria dos peregrinos, que guardarão aquele documento como prova de um feito importante nas suas vidas, e realmente é. Andar ou pedalar por todo o norte da Espanha em busca desse papel é algo que não se pode ignorar.

Obrigado pelas mensagens de apoio e até mais!

Paulo Reis

Dia 8 – Vega de Valcarce a Portomarin
Distância -83Km
Tempo gasto 8h30m

Quando menos esperamos o Caminho prega-nos mais belas surpresas. Foi o caso da fantástica subida e descida ao "Cebreiro" (1390m). Confesso que estava apreensivo pois muita gente me avisou que esta ia ser uma subida díficil ou quase impossível para bicicletas e que devia seguir pela estrada. Encarei a subida como mais uma de entre muitas que não são impossiveis, mas apenas mais morosas de transpor. Levei mais de duas horas a subir o monte, mas achei demasiado simples se bem que compreenda que se tivesse subido na hora de calor intenso iria as coisas seriam muito complicadas! Passei muito tempo a arrastar a bicicleta á mão "monte acima" e mesmo assim passei por muitos peregrinos a pé. A dada altura aproximo-me de um tipo alemão e começamos a falar sobre a dureza da subida e do caminho. Chegámos ambos á conclusão que estava a valer muito a pena percorrer estes 800 kms. O alemão era uma figura jovem,estranha, de 2 metros de altura e muito magro que caminhava a um ritmo muito lento. Disse-me que fazia tudo muito rápido na vida do dia-a-dia mas que encontrara aqui o seu ritmo ideal. Confessou-me que já lhe metia confusão quando o caminho cruzava as cidades maiores e que ao fim da primeira semana decidiu que ia caminhar, dormir e tomar banho ao ar livre sempre que podia. Assim tem feito, vindo de dois em dois dias a um albergue lavar a roupa. Só sei que conversando com ele durante duas horas, quando nos apercebemos tinhamos chegado ao topo de "O Cebreiro". Hoje lembrei-me de uma conversa com o Itabyra de ontém em que ele me dizia que neste caminho andam desde atletas, a pessoas muito debilitadas mentalmente, a pessoas alegres por estarem vivas, pessoas que ficam para sempre a deambular pelo caminho e mesmo pessoas que vem para morrer aqui! Uma coisa é certa nimguém saí daqui da mesma forma que chegou, alguns flipam da cabeça e ficam, mas a grande maioria "faz um reset" e tenta adaptar-se de novo á vida normal. Hoje vi uma pessoa ao longo do caminho com um ar terrível e com aspecto de ter alguma espécie de doença terminal e lembrei-me das palavras do Itabira da noite anterior.
O dia foi um autêntico "sobe e desce" numa zona montanhosa" com muita gente embicicleta de montanha por aqui a fazer pequenos trechos do caminho por diversão. Fui me juntando a alguns grupos, ajudei outros com furos e avarias com o material que transportava nas mochilas para emergências e assim foi passando o dia. Estou agora no Albergue Municipal de Portomarim que fica junto do Rio Lima. Queria continuar mais uns kms mas precisava urgentemente de passar as fotos para CD, pois o cartão de memória estava cheio com tantas fotos que tirei ao longo deste belo dia. Aparentemente só me faltam 92 kms para chegar a Santiago de Compostela e devo chegar amanhã se não houver precalços. Vou ter o dia todo para decidir se termino por ali a minha odisseia ou se sigo mais 100 kms até "ao fim do mundo" em Finistera. Quem faz 800kms também faz (talvez) mais 100 kms. Nunca nas minhas melhores espectativas pensei que poderia fazer o percurso em apenas 9 dias. A ver vamos como me sinto amanhã, pois para já estou "forte como um touro" e sinto-me em grande forma apesar dos dois ou três percursos de maratona diários…

Informação adicional:
Subida ao temível El Cebreiro, o alto de uma montanha com 1390 metros de altitude e cuja subida é interminável e ainda existem muitas outras subidas até chegar a Sarriá (e uma descida incrível também). O desnível acumulado, ou seja, a soma de todas as subidas foi de 1.395 metros de altitude.
El Cebreiro é uma vila muito pequena, que parece saída das histórias de Astérix, o Gaulês, com casas feitas de pedra. Um dos pontos mais emblemáticos do Caminho, o lugar proporcionava assistência aos peregrinos e a sua história data de 1072.
Depois de 20 minutos por lá, resolvi seguir para Sarriá, distante cerca de 48 km. Naturalmente, enfrentei mais subidas, com o sol ainda forte e o vento desestabilizador. Cheguei em Sarriá exausto mas segui até Portomarim onde o vento fortissímo não me deixava avançar mais e resignei-me a ficar por alí. A vontade de chega a Santiago já é grande neste momento!

Até logo!
Paulo Reis